Avança a olhos vistos no Brasil o movimento do empreendedorismo, fenômeno associado à geração de novas empresas (startups), seja por necessidade ou pela percepção de novas oportunidades na economia. Acompanhando tal movimento,floresce também um mercado de “suporte à fundação e desenvolvimento dessas startups”, o que envolve desde a criação de incubadoras, aceleradoras e parques de empresas, até atividades de ensino sobre “modelos” e “planos” de negócios, consultoria de investimentos (“anjos”, “santos”, “deuses da grana”), etc.

Todo o aparato que se tem montado (tanto lá fora quanto aqui no país) parece sugerir que criar uma empresa (e fazê-la ter sucesso) é algo “penoso”, mas que, com algumas “receitas de bolo” replicáveis, o “novo” empreendedor pode (desde que com “garra”, “perseverança”, e uma boa “dose de sorte”) chegar lá! Na área de tecnologias de informação e comunicação o sucesso de alguns jovens empreendedores internacionais (marcadamente alguns que deixaram até de cursar o ensino superior) e de suas empresas de explosivo crescimento, adiciona um apelo sedutor: “se eles chegaram lá porque eu não posso tentar também?”.

Uma das “receitas de bolo” que estão na moda é aquela que diz que a primeira coisa que o empreendedor tem que fazer é definir seu “modelo de negócio”, preencher uma tela (canvas) com algumas variáveis importantes, e, “pronto!”; o próximo passo é “namorar” (num elevador, fórum, ou encontro programado) um “anjo”, “santo” ou “deus da grana”, tentar “noivar”, e finalmente, conquistar um “casamento” para o resto da vida (geralmente um casamento de “vampiro”, já que um praticamente “tira o sangue do outro”, como se diz popularmente!).

O que pouco se leva em consideração (ou pouco é repassado aos empreendedores) nestes processos, é um emaranhado de coisas realmente complexas que constituem o universo das empresas: sua organização interna, como ela se articula com outras empresas, e como ela interage com seu ambiente institucional.  

Em se tratando da organização interna das empresas, pelo menos três dimensões são de significativa importância: a) os processos de tomada de decisão (onde se situam as questões de poder e política, bem como as de cultura empresarial e liderança); b) a estrutura de emprego (onde são tratados os incentivos, tais como pagamentos por desempenho, desenvolvimento de competências e habilidades, e práticas de recursos humanos); e, c) estruturas e processos (onde são lidadas questões como hierarquia, formas alternativas, alocação de recursos, e precificação).

Quando se procura observar a articulação da empresa com outras empresas, pelo menos quatro dimensões são relevantes; a) se a estrutura desenhada é de integração vertical (ou seja, vertical reflete a extensão nos quais os bens e serviços, que podem ser comprados de outras empresas, são produzidos internamente, configurando um lado da decisão “make-or-buy”); b) se a estrutura desenhada é de integração horizontal (ou seja, horizontal se refere à escala de produção, observada pela quantidade do que produz, quando, geralmente, a empresa é produtora de um único produto, ou quanto ao seu escopo, observado pela variedade de produção nas empresas multiprodutos); c) se os contratos são formais ou relacionais (geralmente mercados se apoiam em contratos formais, executáveis de acordo com as cortes, enquanto as empresas devem usar contratos relacionais, acordos informais não julgados por cortes); e, d) se as formações empresariais são híbridas, ou seja, conformando alianças, redes, joint ventures, etc.

Finalmente, há que se observar que as empresas estabelecem relações que vão além de suas fronteiras, e interagem com entidades como o Estado, cumprindo ditames que são firmados através de leis, normas, diretrizes, ou mesmo através de estruturas de governança “sem lei” ou governo, como é o caso da Internet.

O que se pretende com a explicitação deste “emaranhado de coisas realmente complexas”,é apontar que a empresa não é apenas uma “construção tecnológica”, onde o empreendedor obtém “rapidamente” quantidades de insumos (capital, trabalho, etc.) e as transforma eficientemente (através de um processo de produção) em produtos e serviços. Mas sim, que a empresa é uma estrutura de governança!

Mas o que é uma estrutura de governança? Eis aqui o tema da segunda parte desta newsletter!