Em trabalho publicado em 2019 pelo Strategy, Policy, and Review Department do Fundo Monetário Internacional – FMI, intitulado “The Economics and Implications of Data: An Integrated Perspective” (A Economia e Implicações dos Dados: Uma Perspectiva Integrada), Yan Carrière-Swallow and Vikram Haksar ofertam uma síntese das funções dos dados na economia moderna, como um insumo na função de produção, bem como um meio de mudar informação entre os agentes econômicos.
Os autores consideram três características dos dados que formam uma base potencial para intervenções de políticas: (1) não-rivalidade e retornos associados com escala e escopo; (2) externalidades de privacidade, e (3) exclusão parcial. Eles descrevem como arcabouços de políticas de dados afetam objetivos de eficiência, equidade, e estabilidade, e discutem suas implicações para atividades transfronteiras e para o setor financeiro. Apontam ainda que um enfoque integrado para políticas de dados é requerido para balancear os trade-offs complexos que emergem ao longo desses objetivos. E, finalmente, identificam quatro áreas de preocupação que as políticas modernas de dados devem endereçar, incluindo cooperação doméstica e internacional entre agências.
Observando as três características que impactam nas políticas públicas, podemos colocar o seguinte. Primeiramente, a característica de não-rivalidade. Utilizando o mantra recorrente de que “dados são o novo petróleo”, enquanto usar petróleo significa que outros não poderão usá-lo, os mesmos dados podem ser usados por muitos. Tal como uma nova ideia, a sociedade se beneficia mais com os dados quando eles são amplamente compartilhados, uma vez que mais usuários estarão aptos a usá-los para aumentar a eficiência e inovar. Mas enquanto a tecnologia torna a não-rivalidade dos dados possível, políticas e decisões privadas afetam se isso se materializará na prática. Sob as políticas presentes, não é provável que empresas privadas tenham incentivos para conceder acesso dos competidores aos dados que elas coletaram, de modo que práticas de acúmulo de dados podem limitar a contestabilidade do mercado e os benefícios sociais que podem advir a partir dos dados.
Quanto à segunda característica, dados envolvem externalidades. A coleta, compartilhamento e processamento de dados pessoais por um agente impõem custos a outros ao afetar suas privacidades. Uma implicação é que um mercado de dados com ausência de direitos de controle dos usuários suficiente – onde os coletores de dados fazem o que quiserem com os dados que eles coletam – é provável que se leve a uma coleta excessiva de dados e a pouca privacidade. Um desafio de política relacionado é clarificar os direitos e obrigações dos participantes no mercado de dados.
A terceira característica é que dados são somente parcialmente excludentes. O armazenamento de dados em sistemas interconectados significa que controlar o acesso aos dados requer investimento contínuo para prevenir sua perda através de cyber-attacks. Uma questão chave de política é a extensão pela qual coletores de dados privados e processadores têm incentivos adequados para investir em proteger seus dados, particularmente no caso de dados individuais sobre outros. Há um consenso emergente que efeitos reputacionais privados são insuficientes, e medidas de políticas são necessárias para assegurar que dados sensitivos sejam protegidos adequadamente.
A partir destas características, os autores examinam como os dados têm o potencial para contribuir para o crescimento econômico através do seu uso como um insumo na produção de bens e serviços, e ao facilitar a produtividade da empresa através do “aprender ao fazer”. Ao gerar informação e reduzir assimetrias, eles podem também, potencialmente, melhorar a eficiência dos mercados, reduzir os custos de empréstimos para tomadores em mercados financeiros, e melhorar o casamento de produtos com consumidores.
Igualmente, os autores descrevem três tipos de agentes que desempenham um papel na geração de valor com dados, e, então, devem ter uma legítima porção nos retornos gerados: (1) os sujeitos dos dados - aqueles que os dados dizem respeito, e que têm preferência sobre mantê-los privados; (2) o coletor de dados – aquele que paga os custos de gravar e proteger os dados; e, (3) o processador dos dados – aquele que desempenha análises custosas de um banco de dados para extrair discernimentos e conhecimento. Cada um desses agentes tem seus interesses e preferências, e suas decisões sobre a coleta, transferência, e compartilhamento irão ter uma incidência sobre outros.
Finalmente, a proliferação de dados tem implicações para a estabilidade em setores onde os cyber-attacks podem minar a confiança pública na provisão de serviços (tais como serviços financeiros), ou podem comprometer diretamente as operações do setor (tais como redes de energia). Um caso especial e de grande importância é a da estabilidade financeira, mas os detalhes sobre este setor podem ser encontrados no documento aqui resenhado.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre implicações macroeconômicas dos dados, não hesite em nos contatar!