O livro, cujo título dá nome à presente newsletter, publicado em 2020 pelo economista Michael J. Howell, PhD em Economia e fundador da empresa de gestão de fundos CrossBorder Capital Ltd., sediada em Londres, tem uma tese interessante. Para o autor a História, particularmente a história financeira, não é aleatória. E a ideia do livro é que os ciclos econômicos são guiados por fluxos financeiros, nomeadamente quantidades de poupanças e créditos, e não por alta inflação ou nível de taxas de juros.
Seus poderes destrutivos e devastadores (dos fluxos financeiros) são expressos através do que o autor chama de Global Liquidity, um pool de US$ 130 trilhões de dinheiro descompromissado. Para ele os policy makers dos Bancos Centrais deveriam, consequentemente, dar uma reviravolta e focar mais em estabilidade financeira do que metas fantasmas de inflação de preços ao consumidor.
O economista John Maynard Keynes, recupera o autor, um dos principais nomes da economia no século 20, distinguia as esferas financeira e industrial de uma maneira similar à de como nós deveríamos, hoje, separar a economia dos ativos daquela da economia real. Tentar estimular a economia real com liquidez sempre corre o risco, ao invés, de criação de bolhas de preços de ativos. Nos anos 1930, enfrentando idêntica situação dos anos pós Grande Crise Financeira (de 2007/08), os policy makers então deslancharam um estímulo análogo com o mesmo resultado: preços estáveis de produtos e serviços, mas preços de ativos disparados.
Um mundo fraturado e incerto, continua o autor, encoraja os investidores a reterem excessivas quantidades de ativos “seguros”, tais como dinheiro e títulos de governo, e, particularmente, dólares estadunidenses, mais do que colocar dinheiro para trabalhar produtivamente. Quando o Estado falha em produzir suficientes ativos seguros, logo o setor privado avança com menos bens substitutos, cujos valores infelizmente se movem pró-ciclicamente. As políticas de austeridade dos governos e os programas de “quantitative tightening” (aperto quantitativo, através de elevação de taxas de juros) podem não parecer boas ideias.
Howell nos leva a pensar este mecanismo como a então chamada “precautionary demand for money” (demanda cautelar por moeda) apressadamente tirada dos livros-textos tradicionais de Economia, mas que parece descrever melhor os riscos sistêmicos crescentes que enfrentamos do que o motivo especulativo mais conhecido, o qual avalia as chances de crescer (ao invés de cair) as taxas de juros e levar a uma “liquidity trap” (armadilha de liquidez) (*). Howell argumenta que a Global Liquidity “nunca é encurralada: ela não balança qualquer bandeira, não conhece fronteiras e muda tudo rapidamente entre mercados e classes de ativos”.
Em outras palavras, são os determinantes das flutuações da Global Liquidity que explicam o porquê, à medida que o mundo fica maior (mais globalizado, grifos nossos!), dele se tornar mais volátil. Para Howell, a escassez subjacente de ativos de alta qualidade leva às “Capital Wars” (Guerras do Capital). Aqui, o campo de batalha abraça moeda, tecnologia e geopolítica, com a disputa travada entre, atualmente, duas superpotências: a indústria chinesa e as finanças estadunidenses.
Logo, o livro é um híbrido de teoria econômica e de finanças e de experiência do mundo real do autor. Ao contrário das finanças tradicionais, que focam nos méritos de securities (títulos) individuais, o autor se concentra na alocação de ativos, e avalia o potencial para mudanças em macro valorações baseadas nas interações de multidões de investimentos e de instituições monetárias, levando-o a criar um índice para a liquidez global, tal como mostrado na Figura 1 à frente.
O livro, que a Creativante recomenda fortemente para aqueles que querem conhecer em mais profundidade alguns dos principais detalhes dos determinantes dos fluxos financeiros que conformam a Global Liquidity, é composto por quatorze capítulos, e vale cada linha pela experiência trazida pelo autor na sua pesquisa nestas “Capital Wars”!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre Capital Wars, não hesite em nos contatar!
(*) Uma armadilha de liquidez é uma situação econômica adversa que pode ocorrer quando consumidores e investidores acumulam dinheiro mais do que o gastam, ou quando o investem mesmo quando as taxas de juros estão baixas, frustrando os esforços dos policy makers em estimular o crescimento econômico!
Figura 1: Liquidez Global e Fluxos Transfronteiriços para Mercados Emergentes (1995-2023) (Índices de 0-100)
