Um dos grandes desafios de países e de empresas tem sido a questão do crescimento (1). O próprio redator desta newsletter, em seu livro de 2015, aponta para as nuances dos modelos de crescimento econômico de países e os modelos de crescimento de empresas no seu capítulo 11. Outra questão, que está no centro das discussões de expansão negócios, é a de se os negócios escalam (2).
Nesta primeira newsletter de uma série, pretendemos apontar para 03 (três) movimentos analíticos importantes. Um primeiro movimento está relacionado com as unidades básicas de análise em Economia e Negócios. Durante um longo período a tradição dos estudos em Economia e Business foi a de utilizar a empresa como unidade básica de análise. A partir deste século, o foco de atenção dos especialistas tem migrado da análise da empresa para a análise dos ecossistemas de negócios, e particularmente os que são baseados em plataformas digitais, ou de influência da esfera digital (3).
Um segundo movimento é aquele de observar que além destes conceitos de plataformas e de ecossistemas, temos assistido a crescente importância da apropriação do conceito de arquitetura de negócios, grosseiramente entendido como a forma como os negócios vêm sendo desenhados, implementados, operados e governados (aqui dando ênfase ao conceito de governança). Desde 2012 passamos a chamar a associação destes 03 (três) conceitos (ecossistema-plataforma-arquitetura) como a “Trindade Essencial” dos negócios baseados em tecnologia.
Por último, porém não menos importante, assistimos a uma crescente transformação, ou geração e/ou inovação, dos modelos de negócios, aqui entendidos através de três importantes dimensões: a criação de um valor novo para a economia e para a sociedade, a entrega deste novo valor, e a captura de parte deste valor.
Em uma de nossas pesquisas para o Grupo de Finanças Digitais da UFPE, voltada para a convergência recente de 03 (três) ecossistemas financeiros (1- O CeFi – Centralized Finance/Finanças Centralizadas; o De-Fi – Decentralized Finance/Finanças Descentralizadas; e o PlatFi- Platform Finance/Finanças de Plataformas Digitais)(ver Figura 1 à frente), já apresentamos os nossos arcabouços analíticos iniciais para aplicação de 02 (dois) dos 03 (três) pilares do modelo conceitual que desenvolvemos no nosso livro de 2015 ao caso dos ecossistemas financeiros baseados em plataformas digitais, a saber, o pilar de governança e o pilar da arquitetura. Restava-nos apresentar o arcabouço analítico do pilar do crescimento.
E para tratar do pilar do crescimento, gostaríamos de começar a chamar a atenção para o entrelaçamento do conceito de crescimento com o de escalagem. Como estamos envolvidos com a unidade básica de análise de ecossistema de negócios, nosso desafio é encontrar um arcabouço analítico para tratamento do crescimento ou escalagem dos ecossistemas, e de modo particular os ecossistemas financeiros (Figura 1), e, por decorrência, como estes afetam os ecossistemas da economia real.
E foi assim que chegamos aos trabalhos do consultor indiano chamado Sangeet Paul Choudary. Choudary se tornou famoso internacionalmente como autor do livro “Platform Scale: How an emerging business model helps startups build large empires with minimum investment”, de 2015 , publicado pela Platform Thinking Labs, e como co-autor do livro “Platform Revolution: How Networked Markets Are Transforming the Economy and How to Make Them Work for You ”, publicado em 2016 pela W.W.Norton & Company.
Um dos principais argumentos do Choudary é o da observação de que as novas tecnologias digitais estão reorganizando os mercados, contribuindo para o “unbundle” (desagrupamento) das tradicionais cadeias de valor verticalmente integradas. Este “desagrupamento” da arquitetura de indústrias verticalmente integradas cria, por sua vez, um ecossistema mais modular, em camadas, onde empresas em cada camada se especializam em uma particular criação de valor.
O surgimento de ecossistemas de negócios move o valor para longe dos tradicionais modelos de negócios verticalmente integrados, e, ao invés, guiam a concentração valor para modelos de negócios horizontais. Em Economia esses modelos de negócios são reconhecidos como “multi-sided platforms” (plataformas de múltiplos lados), à medida que eles criam valor ao organizarem interações em diferentes tipos de stakeholders ao longo de ecossistemas.
Choudary aponta que esses modelos de negócios horizontais desempenham papeis diferentes dependendo de onde eles emergem na cadeia de valor. Para Choudary, em um ecossistema nós tipicamente podemos ver 03 (três) tipos de modelos de negócios horizontais emergindo – Agregadores, Integradores e Infraestruturas, os quais podem ser distinguidos baseado nas suas posições na cadeia de valor. Adicionalmente, empresas podem se especializar e agir como provedores de capacidades.
Na próxima newsletter nós apresentaremos o que constitui cada um desses modelos de negócios horizontais e sua importância no crescimento e escalagem de ecossistemas.
Se sua empresa, organização ou instituição, deseja saber mais sobre escalagem de ecossistemas de negócios, não hesite em nos contatar!
- Importante destacar que os economistas consideram a questão do crescimento econômico tendo a compreensão que ela difere da questão do desenvolvimento econômico. O primeiro conceito está associado à expansão de alguma variável econômica (por exemplo, o Produto Interno Bruto – PIB). Já o desenvolvimento econômico diz respeito às transformações que ocorrem à medida que a economia cresce (por exemplo, se os benefícios do crescimento estão sendo distribuídos para a maior parte da sociedade).
- Para um tratamento recente das diferenças entre crescimento e escalagem, ver: https://www.spendesk.com/blog/growth-vs-scaling/.
- Ver videoaula deste relator abordando a governança de ecossistemas financeiros baseados em plataformas digitais, do Grupo de Finanças Digitais da UFPE: https://bit.ly/4bmh1N4.