Nas duas newsletters anteriores estivemos tratando do livro “Making Money Work: How Rewrite the Rules of Our Financial System” (Fazendo o Dinheiro Trabalhar: Como Reescrever as Regras do Nosso Sistema Financeiro), publicado pelos economistas Matt Sekerke e Steve H. Hanke (ambos da Johns Hopkins University, nos EUA) em abril do corrente ano.
De forma específica, as duas newsletters anteriores estiveram ocupadas com a crítica que Sekerke e Hanke fizeram ao livro intitulado “Interest and Prices: Foundations of a Theory of Monetary Policy” (Juros e Preços: Alicerces de uma Teoria da Política Monetária) do Prof. Michael Woodford, publicado em 2003.
Para esta newsletter nós havíamos pensado em fazer uma revisão do livro de Sekerke e Hanke por nossa própria conta. No entanto, percebemos que já havia no mercado editorial algumas revisões do livro que mereceriam destaque, além de pouparem nosso trabalho. Neste sentido, optamos por reproduzir aqui alguns aspectos daquela revisão que foi feita pelo editor geral da revista Fortune (Shawn Tully), uma das mais respeitadas revistas do mundo na área dos negócios.
De acordo com Tully, com o livro Making Money Work os economistas Sekerke e Hanke apresentam um manifesto para consertar o regime financeiro que trouxe a America para uma corrida pós-COVID cambaleante através de inflação desenfreada, residências e ações sobrevalorizadas, e desigualdade de renda atingindo picos.
A dupla de economistas argumenta que, numa pressa para reverter o curso e domar preços, um desinformado FED reprimiu fortemente a economia, e nem mesmo sabe disso. Para tornar as coisas piores, uma regulação pesada tem paralisado o sistema bancário comercial, diminuindo o fluxo de crédito à medida que o banco central estrangula de volta. O resultado: essas políticas duais equivocadas já estão onerando os EUA com morno crescimento, e pode facilmente disparar uma desnecessária recessão auto infligida.
A solução: colocar a longamente ignorada “oferta de moeda” no centro da política econômica dos EUA. Para fazer isto acontecer, dizem os autores, Washington deve recarregar os players enfraquecidos que criam o fluxo de dólares – bancos comerciais – para moverem a nação de volta onde deveria, e pode estar uma vez mais: em um caminho de preços estáveis e um forte e sustentado crescimento econômico.
O livro é um “must read” (imperdível) para qualquer um interessado em saber como a política econômica dos EUA se tornou incontrolada desde a Grande Crise Financeira – GCF (de 2008). É um livro sobre como colocar a oferta de moeda de volta ao jogo. O FED, defendem os autores, focaliza incorretamente somente em controlar as taxas de juros. Hanke insiste que o crescimento em broad money (moeda ampla) é realmente o que determina os níveis de expansão econômica e inflação, assim como um altímetro regula a altitude de um avião. “O FED tem usado modelos pós Keynesianos que ignoram a oferta de moeda e, então, colocam-nos em uma montanha russa”, diz ele.
Hanke, em conversa com Tully, argumenta que as políticas de dinheiro fácil do FED no pós-COVID inflacionaram fortemente todos os preços de ativos incluindo terras, setor imobiliário, e ações, e eventualmente geraram inflação de quase dois dígitos. Aquelas políticas penalizaram a classe média e tornaram os ricos mais ricos. “Em janeiro de 2020 os bilionários detinham 14% da riqueza na América como uma percentagem do PIB. Hoje detêm 21.1%”.
Hanke e Sekerke argumentam que para colocar o crescimento da oferta de moeda na correta e estável velocidade, os policymakers necessitam colocar os bancos comerciais uma vez mais no centro do ecossistema financeiro. Eles apontam que esses emprestadores, e não o FED, são os reais elefantes na sala. Em torno de 80% do broad money no sistema financeiro tem sido produzido por bancos comerciais via seus empréstimos para empresas e famílias.
O livro assume uma nova e holística visão de política monetária como um tamborete de três pernas. Tradicionalmente o campo estreitamente focalizou no FED. Mas Hanke e Sekerke enfatizam e integram os papeis de dois outros players que tipicamente foram deixados de fora da foto: a regulação dos bancos e a política fiscal. “A regulação bancária e o FED são as duas pernas mais significativas, com a política fiscal ainda potencialmente desempenhando um importante papel”, defendem os autores.
Hanke argumenta que depois da GCF as regras que governam as atividades bancárias se tornaram descontroladas. Duas reformas atingiram os bancos duramente: a legislação Dodd-Frank e o regime internacional Basiléia-III, ambos forçaram os emprestadores a sustentarem reservas mais altas como uma almofada. Como resultado, os bancos se tornaram estrangulados e cortaram fortemente seus empréstimos. Depois de entrarem no negativo nos meses depois da GCF, o crescimento dos empréstimos somente se recuperou gradualmente, e Hanke e Sekerke argumentam que ainda está muito lento. “Os bancos não estão criando moeda o suficiente”, aponta Hanke. “O crescimento dos seus livros de empréstimos permanece relativamente anêmico, a taxas mais baixas do que seus níveis anteriores à GCF”.
Os autores propõem duas medidas para trazer os EUA de volta a preços e crescimento econômico estáveis. Mas estas medidas só serão tratadas na próxima newsletter!
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