Lá nos idos do início da Internet no Brasil (1994/95), nós do primeiro Comitê Gestor da Internet no Brasil discutíamos várias metodologias novas de como atuar na “nova economia digital”. Uma delas dizia respeito ao conceito de redes: como desenhar políticas para tantas dimensões e influências?
Logo surgiu um esquema bidimensional que dividia o tratamento das redes em: um eixo x [com uma camada de infraestrutura na base (onde teríamos os equipamentos de telecomunicações, cabeamentos, roteadores, hubs, etc.), acima delahaveria outra camada de serviços (e-mail, ftp, etc.), e, finalmente, outra camada de aplicações (em várias áreas: comércio, saúde, educação, etc.)]; e um eixo y [com uma vertical de tecnologias existentes, outra de tecnologias as serem exploradas- P&D, e outra de regulação]. Depois surgiu uma nova dimensão, onde um eixo z [com verticais que contemplavam o mercado, o governo, e as estruturas híbridas].
Outro esquema muito popular à época era o tratamento dos negócios na Internet, o que gerou uma discussão sobre modelos de negócios no comércio eletrônico, através de uma “sopinha de letras”, como era chamado na época: Business-to-Business (B2B), Business-to-Consumer (B2C), Consumer-to-Consumer (C2C); Consumer-to-Business (C2B). Depois foram associadas as letras incorporando os governos: Government-to-Government (G2G), Government-to-Consumer (G2C), Consumer-to-Government (C2G), Government-to-Business (G2B), e Business-to-Government (B2G).
Na semana passada dois posts nos trouxeram à memória estes dois esquemas (de quase 20 anos). O primeiro foi do investidor americano Fred Wilson, que publicou em seu blog um post com o título “What Has Changed” (O Que Mudou), e o segundo, intitulado “Numa web mais segura, capital de risco se volta para empresas”, foi publicado pelo Prof. Silvio Meira em seu blog, dando conhecimento da existência do primeiro post e emitindo sua opinião a respeito.
O post de Fred Wilson tenta explicar porque o financiamento de capital de risco (ou empreendedor) voltado para novos negócios de “mobilidade e web para o consumidor final” (o que Silvio Meira denominou “negócios MWCF)”caiu 42% nos primeiros anos de 2012 (em comparação aos primeiros de 2011). Para Fred Wilson isto se deve a, pelo menos, três determinantes: 1) o consumidor web amadureceu; 2) o consumidor está se movendo do desktop/web para aplicações móveis (mobile/app); e 3) os investidores no momentum/estágio final do ciclo dos investimentos estão se movendo dos consumidores para as empresas (o que o Prof. Silvio Meira denominou negócios que “habilitem empresas, na web, móveis e sociais, ou EWMS”).
Apesar da empresa de Fred Wilson ser uma pequena empresa (para os padrões americanos), como ela é uma empresa de capital empreendedor “thesisdriven” (baseada em tese), é preciso prestar bastante atenção ao que ele está apontando neste post. Além do mais, a apropriação desta tese pelo Prof. Meira, adicionando dados que procuram corroborá-la, e fazendo suas devidas ponderações, é outro indicador de que a tal “migração” (usando a “sopinha de letras”) de B2C para B2B merece ser, de fato, encarada como um novo, e complexo, horizonte.
Nós da Creativante acreditamos que esta “migração” é muito mais complexa do que uma mera mudança do “humor/preferência dos investidores de risco” em função de mudanças no comportamento/preferências high-tech dos consumidores. Cremos que tal migração se deve também (entre outros fatores) a uma complexa mudança no padrão de financiamento mais geral das empresas (particularmente americanas), que estão “migrando” de “debt-for-equity” (de endividamento no mercado financeiro para um de funding no mercado de capitais), o que tem a ver com a crise financeira que se instalou a partir de 2007/08. Mas esta discussão fica para uma outra newsletter!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre movimentos do capital empreendedor, fique a vontade para nos contatar!