A Administração/Gestão tem características tecnológicas? Esta foi a pergunta que se fizeram os economistas Nicholas Bloom, Rafaella Sadun e John Van Reenen em seu mais recente artigo intitulado “Management as a Technology?”, divulgado, como draft research paper, na página na web de Nicholas Bloom, que é Professor de Economia da Stanford University, nos EUA.
Apesar de ser um texto preliminar e incompleto, logo ainda não publicado oficialmente, o texto é da responsabilidade do Prof. Bloom, que é um internacionalmente reconhecido pesquisador da área de Economia. Além de ter um título provocativo, o texto é inovador, sólido, bem fundamentado, e faz parte da linha de pesquisa do Prof. Bloom, ligada ao impacto das Management Practices (Práticas de Administração) na Economia.
Os autores coletaram dados de práticas de gestão em mais de 8.000 empresas em 20 países nas Américas, Europa e na Ásia. Em termos resumidos, os autores observaram os seguintes principais aspectos: os EUA tem o mais alto score médio de gestão, e em torno de 30% deste é devido ao que eles chamam de “efeitos de seleção mais poderosos”. A gestão responde por até metade do hiato em produtividade (produtividade total dos fatores) entre os EUA e os outros países. A correlação mais forte entre o tamanho da empresa (e seu crescimento) e a qualidade da gestão é relacionada a uma maior competição (especialmente a partir de barreiras ao comércio mais baixas) e a uma regulação trabalhista mais frágil. Usando dados de painel sobre mudanças em práticas de gestão ao longo do tempo, os autores argumentam que a competição mais intensa gera tanto efeitos de seleção poderosos quanto incentivos às empresas incumbentes a fazerem upgrades em suas práticas de gestão. Parte deste efeito competição é devido a mudanças nas percepções (mais que otimistas) de uma empresa sobre a qualidade de sua gestão.
A pesquisa dos autores começou a partir da seguinte constatação: as diferenças em produtividade entre as empresas e entre os países permanecem alarmantes. Estas diferenças persistem ao longo do tempo, são robustas e uma explicação é que estes diferenciais de produtividade são devidos a inovações tecnológicas “hard”, tais como as incorporadas em patentes ou adoção de novos equipamentos avançados. Outra explicação para este fenômeno é que ele reflete variações em práticas de administração/gestão. Logo, o artigo dos autores foca nesta segunda explicação.
Eles levantam a ideia de que “algumas formas” de administração/gestão são como uma “tecnologia”. E isto tem um número de implicações empíricas que os autores examinaram e encontraram suporte nos dados. Eles argumentam que esta perspectiva sobre gestão é distinta de grupos alternativos de teorias, tais como as que afirmam que a gestão é um outro fator de produção, ou simplesmente, uma questão de design, dependendo somente de características contingentes do ambiente da empresa.
Ao usarem um banco de dados de cerca de 8000 empresas em 20 países, os autores apresentam alguns “fatos estilizados” deste banco de dados nas dimensões cruzadas dos países e cruzadas das empresas. Daí eles examinaram algumas implicações empíricas do modelo de gestão como uma tecnologia e chegaram a algumas evidências:
(i) A Administração/Gestão é associada com produtividade e lucratividade mais altas. Ao contrário de outros fatores de produção, a elasticidade do produto com respeito à administração/gestão parece ser amplamente estável ao longo dos países. Da evidência experimental ela parece ser causal;
(ii) Há realocação de atividade em direção a empresas melhor gerenciadas em termos de insumos (exemplo, emprego) e crescimento das vendas. Isto força a realocação ser mais forte nos EUA do que em outros lugares, e isto representa algo como 30% da vantagem gerencial dos EUA. Barreiras ao comércio mais baixas e mercados de trabalho mais flexíveis ajudam a acelerar a realocação;
(iii) Um dos fatores mais importantes em melhorar a qualidade da gestão é a competição no mercado. Isto opera tanto através de efeitos de seleção quanto de incentivos. Parte da razão para isto é que a competição impulsiona os gestores a revisarem mais realisticamente suas percepções de seus desempenhos.
Estes resultados são surpreendentes, e devem deixar alguns economistas (principalmente aqueles mais “acadêmicos”, que menosprezam a importância da administração/gestão para a Economia) com uma “pulga atrás da orelha”, já que não podem mais ignorar o provável efeito “tecnologia” que a gestão das empresas representa!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o impacto das práticas de gestão no desempenho das empresas ou países, fique a vontade para nos contatar!