Estamos de volta com as newsletters da Creativante, iniciando 2014 com uma discussão que tem preocupado muitas pessoas no Brasil. Afinal, por que o Brasil tem crescido tão pouco? Quais são os fatores que podem representar a retomada do crescimento econômico sustentado no país?
Não é mais novidade hoje para muitas pessoas, e certamente na visão de muitos fazedores de políticas (principalmente em governos), que inovação é um fator chave para o crescimento econômico. Inovação pode ser dividida em inovações tecnológicas, na forma de novos produtos e serviços, e em inovações não-tecnológicas, na forma de mudanças organizacionais ou de marketing. O crescimento econômico pode ser atingido ao: (a) se colocar mais fatores de produção para trabalhar (aumento no investimento, uso de mais terras, diminuição do desemprego, e aumento na participação da força de trabalho); e, (b) se atingir maiores níveis de produto com a mesma quantidade de recursos, o que os economistas chamam de “produtividade total dos fatores- PTF”.
Como nos recordam Mohnem e Hall (2013), a inovação per si não aumenta a quantidade de recursos produtivos, logo ela afeta o crescimento através principalmente da PTF. Mas a inovação afeta a PTF através de que canais? Que evidência nós temos para afirmar que a inovação aumenta a PTF? Que tipo de inovação tem o maior impacto na PTF? Há complementaridade entre diferentes formas de inovação?
Estas são questões extremamente relevantes, mas elas omitem um aspecto também crucial para um efetivo entendimento dos fatores que afetam o crescimento econômico: como a Pesquisa e o Desenvolvimento (P&D) de novos produtos, processos e serviços se transformam em inovações que chegam ao mercado e beneficiam a sociedade, e como estas atividades afetam o crescimento econômico?
Estas questões têm surgido na literatura econômica devido ao que Andersson, Johansson, Karlsson e Loof (2012) chamam de “R&D and innovation paradoxes” (paradoxos do P&D e da inovação). Segundo estes autores, tem havido certa preocupação entre os acadêmicos e os profissionais destas áreas com o fato de que vários países da OECD (ou OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) têm demonstrado altos gastos em P&D combinados com moderado crescimento econômico.
Mais especificamente, em contraste com o consenso até então existente de que P&D e inovação são variáveis-chave para o crescimento econômico de longo-prazo, pesquisas recentes mostram significativas variações na correlação entre (1) P&D e inovação; (2) P&D e produtividade; e, (3) inovação e produtividade. Alguns dos resultados mais robustos destas pesquisas, em termos de inovação ao nível da empresa, são os seguintes: P&D e produtividade são positivamente relacionados; P&D e inovação são positivamente relacionados; inovação e produtividade são relacionados. No entanto, não há elos estatisticamente fortes entre o nível de P&D e o crescimento da produtividade, ou crescimento do P&D e o crescimento da produtividade. E isto se aplica também ao nível da economia como um todo (ou seja, ao PIB), o que remete aos paradoxos acima citados.
Em resumo, ainda conhecemos pouco sobre o efetivo “nexo” entre P&D, inovação e crescimento econômico. Uma das primeiras maneiras de contribuir para um melhor conhecimento dos “elos faltantes” neste nexo P&D-inovação-crescimento, seria assumir-se (principalmente entre os fazedores de políticas nos governos no nosso país), como nos sugerem White e Brutton (2010), que “a gestão de inovação requer tecnologia, mas a gestão de tecnologia não requer necessariamente inovação”!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o nexo P&D-inovação-crescimento, fique a vontade para nos contatar!
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Referências:
Andersson, Martin, Borje Johansson, Charlie Karlsson, and Hans Loof (Editors) (2012). “Innovation & Growth: From R&D Strategies of Innovating Firms to Economy-Wide Technological Change”. Oxford University Press.
Mohnen, Pierre and Bronwyn Hall (2013). “Innovation and productivity: An update”. Maastricht Economic and Social Research Institute on Innovation and Technology (UNU-MERIT). Working Papers Series, No. 21.
White, Margaret A. and Garry D. Button (2010). “The Management of Technology and Innovation: A Strategic Approach”. Cengage Learning. Second edition.