Na newsletter da semana passada levantamos uma questão (tema para debate) que dá título à própria newsletter: qual tipo de empresas devemos privilegiar – startups ou empresas de alto potencial de crescimento? Naquela oportunidade apontávamos qual é o universo brasileiro das empresas de alto crescimento, e deixamos para esta segunda parte a apresentação de alguns dos principais argumentos do debate.
Começamos com o premiado artigo ‘Why encouraging more people to become entrepreneurs is bad public policy’ (Porque encorajar mais pessoas a se tornarem empreendedores é uma má política pública), publicado por Scott Shane na revista Small Business Economics (2009, 33: 141-149). Neste artigo, Scott Shane (autor do livro ‘Illusions of Entrepreneurship: The Costly Myths that Entrepreneurs, Investors and Policy Makers Live By’. Yale University Press, 2008) argumenta que os fazedores de políticas frequentemente pensam que criar mais companhias startups irá transformar regiões economicamente deprimidas, gerar inovação, e criar empregos. Esta crença é falsa porque a startup típica não é inovadora, cria poucos empregos, e gera pouca riqueza. Segundo ele, obter crescimento econômico e criação de empregos de empreendedores não é um jogo de números. É uma questão de encorajar a formação de companhias de alta qualidade e alto crescimento. Logo, os fazedores de políticas deveriam parar de subsidiar a formação de startups típicas e focar no sub-conjunto de ‘negócios com potencial de crescimento’.
Por outro lado, o artigo ‘High-growth firms: introduction to the special section’ (Empresas de alto crescimento: introdução à seção especial), publicado por Alex Coad, Sven-Olov Daunfeldt, Werner Holzl, Dan Johansson e Paul Nightingale na tradicional revista Industrial and Corporate Change (2014, Volume 23, Number 1, pp. 91-112), como introdução a uma seção especial sobre High-Growth Firms (HGFs) – Empresas de Alto Crescimento, argumenta que estas empresas têm atraído considerável atenção recentemente, à medida que acadêmicos e fazedores de políticas têm crescentemente reconhecido a natureza altamente assimétrica de muitas métricas de desempenho empresarial.
Segundo os autores, um pequeno número de HGFs polariza uma quantidade desproporcionalmente grande de criação de empregos, enquanto que a empresa média tem um impacto limitado na economia. O artigo dos autores explora as razões para o crescente interesse, sumariza a literatura existente, e ilumina as considerações metodológicas que limitam e induzem vieses na pesquisa. A seção especial da revista chama a atenção para a importância das HGFs para o futuro desempenho industrial, explora suas trajetórias e estratégias não usuais de crescimento, e ilumina a ausência de persistência do alto crescimento.
Consequentemente, segundo os autores, enquanto as HGFs são importantes para entender a economia e desenvolver política pública, elas não são provavelmente veículos úteis para política pública dados as dificuldades envolvidas em prever quais empresas irão crescer, o hiato de persistência dos níveis de alto crescimento, e o complexo, e frequentemente indireto, relacionamento entre capacidades empresariais, alto crescimento, e desempenho macroeconômico.
Estes são os principais argumentos (que circulam no cenário internacional) deste importante debate. A questão que permanece para reflexão é a seguinte: como nos posicionamos (como país ou região) neste debate? Cremos que as transformações recentes da economia brasileira (marcadamente na sua base produtiva: ver, por exemplo, a newsletter de 07-11-2010) exigem que façamos esta reflexão.
Afinal, qual é, na realidade, o diagnóstico do desempenho dos nossos programas institucionais de fomento às startups brasileiras (aí incluindo todo um ‘ecossistema’ envolvendo programas de incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos, mecanismos de fomento e incentivos, bem como de funding, de ‘anjos’ até ‘private equity’ e IPO´s)? E o que temos feito pelas nossas HGFs?
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre empresas de alto potencial de crescimento, fique a vontade para nos contatar!