Na semana que passou este editor esteve participando do evento denominado “Acontece Indústria: O Futuro do Trabalho”, organizado pelo C.E.S.A.R. (instituto de inovação baseado em Pernambuco) em São Paulo no dia 21/09/2017. Como tínhamos apenas dez minutos para fazer nossa apresentação, optamos pela breve proposição de três argumentos centrais. Os argumentos foram os seguintes:
Primeiro Argumento: No futuro nós vamos consumir inteligência como consumimos alimentos. Para desenvolvermos este argumento, partimos das seguintes premissas. A Inteligência Artificial está sendo considerada como uma GPT- General Purpose Technology (Tecnologia de Propósito Geral), tal como a eletricidade e a Internet. Ela é uma designed intelligence, ou seja, uma inteligência projetada, fabricada; e como tal, ela pode, em princípio, se reprogramar para ficar melhor e melhor, podendo até se reproduzir. Logo, isso vai levar ao que estamos denominando de “A Cambrian Explosion of Intelligence” (Uma Explosão Cambriana de Inteligência). Nossa referência a uma “explosão cambriana” se baseia num artigo internacional que nós (junto com mais dois amigos) escrevemos há uns sete anos sobre uma “explosão cambriana de vida robótica”. A referência ao período cambriano se dá porque foi nesse período (há uns 500 milhões de anos) que a vida, tal como passamos a reconhecer, explodiu na Terra.
Com uma “licença acadêmica”, afirmamos que desde tempos imemoriais existiram três tipos de pessoas: os produtores/geradores de riqueza e renda, os administradores de riqueza e renda, e os extratores de riqueza e renda. Ao longo do tempo, inventamos a agricultura, domesticamos animais, criamos a linguagem, os números, o cálculo, a geométrica e a escrita. Passamos pela “Primeira Era das Máquinas” (que, como defendido do livro “The Second Machine Age”, estendeu o poder muscular), e estamos na “Segunda Era das Máquinas” (que está estendendo o nosso poder mental, basicamente a partir das TICs, de acordo o mesmo livro acima). Mas nós vamos conviver no futuro num contexto em que esses três tipos de pessoas terão que competir/cooperar/colaborar com “máquinas inteligentes”.
Segundo Argumento: As competências e habilidades no futuro serão moldadas pela produção/comercialização/consumo no mercado de inteligências. Como haverá uma explosão de inteligências [a inteligência será ubíqua, distribuída, e terá várias dimensões (a individual – aquela aferida nos testes de QI, a emocional, a social, a ecológica, tal como apresentado por Daniel Goleman), ou as “múltiplas inteligências” de Howard Gardner, e aquelas oriundas da “inteligência artificial”)], as competências e habilidades serão particularmente definidas a partir de plataformas digitais, sejam elas locais ou globais, mas particularmente as segundas, pela sua escala planetária. Daí que precisamos entender mais profundamente a estrutura e dinâmica dessas plataformas (para tanto, sugerimos nosso próprio conceito de Trindade Essencial, tratado aqui nessa newsletter e em nosso livro).
Terceiro Argumento: Para que isso aconteça, precisamos ir além das tecnologias e necessitamos redefinir nossos valores, virtudes, comportamentos e crenças. A título de exemplo, citamos a questão da CONFIANÇA. Hoje nós confiamos mais nas plataformas digitais do nosso habitual convívio (Google, Facebook, Twitter, para ficar em algumas) do que nos nossos governos (e isso em escala global). Como apontado por Nick Grossman, nossa relação com o governo é marcada pela permissão: para tudo nós pedimos permissão ao governo. Temos um esforço enorme nesta relação, mas assim que a permissão é concedida, nossos dados são praticamente esquecidos numa prestação de contas irregular e frouxa. A antítese disso são as plataformas digitais, onde dispendemos pouco esforço em permissão, passamos vários de nossos dados (toneladas) para elas, mas a prestação de contas é restrita. Por conseguinte, os governos, que precisam de dados para governar, não os detêm, e nós ainda não aprendemos a compartilhar os dados que estão nas plataformas digitais. Logo, precisamos repactuar nossa relação de confiança na sociedade digital.
Em resumo, nos dez minutos que nos couberam, e em mais alguns de discussão com a audiência, tivemos a oportunidade de defender que no futuro o valor das coisas não será mais mediado pelo trabalho, como foi essencialmente da “Primeira” para a “Segunda Era das Máquinas”, mas sim pela agregação consciente de inteligências a tudo que desejarmos realizar daqui por diante. A ideia de trabalho persistirá (como um esforço a ser desempenhado, ou como uma ação transformadora consciente), mas o valor das coisas virá das inteligências que seremos capazes de desenvolver, acumular, distribuir e consumir (como se fossem alimentos)!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre explosão cambriana de inteligência, fique a vontade para nos contatar!