O mundo está convivendo com várias turbulências: guerra entre a Rússia e a Ucrânia, crise de energia, distorções nas cadeias globais de valor, crises de dívidas, taxas de inflação crescentes, economias em recessão, desvalorização das moedas nacionais, dentre outros. Apesar disso tudo, o dólar, moeda dos EUA, valoriza-se cada vez mais! Qual é a explicação para este fortalecimento do dólar?
Uma das teorias que mais têm sido referenciadas no mundo dos negócios (e não na Academia) a este respeito é a “Dollar Milkshake Theory - DMT” (cuja tradução tentativa para o português seria “Teoria do Dólar Milkshake”), desenvolvida já há alguns anos por Brent Johnson, CEO e Gestor de Portfólio da Santiago Capital, conselheira de investimentos baseada em Porto Rico, e empresa criada por ele depois de uma carreira no Credit Suisse.
Uma das apresentações de Brent Johnson (doravante Brent) que consideramos mais didáticas de sua teoria é aquela que foi publicada em janeiro de 2019. De forma bem resumida, na opinião do Brent (sintetizada mais recentemente numa entrevista na Internet) sua teoria é o “arcabouço no qual ele vê a crise da moeda global, e da dívida soberana, manifestando-se”. Segundo ele, focando mais especificamente nos últimos 15 anos (ou seja, a partir da crise financeira de 2007/8, apesar da teoria ter um alcance histórico mais amplo), o mundo assistiu a um grande estímulo de crédito, com vários bancos centrais no mundo injetando massivos volumes de recursos.
A partir daí, o mundo “misturou esse ‘milkshake’ de liquidez”, e fez isso para pagar as dívidas “ruins” existentes. E por um número de razões que têm a ver com os EUA e o dólar (com seu status de moeda de reserva internacional), os EUA e o dólar detêm o “canudo” para beber/sugar esse “milkshake” que o resto do mundo produziu e continua a produzir. Logo, o que ele percebe que vai acontecer, é que à medida que entramos na crise da dívida, por razões merecidas ou não, na realidade, os EUA estão numa posição relativa melhor do que o resto do mundo (por vantagens que os EUA detêm diante do mundo). Como resultado, o capital global irá achar seu caminho para o dólar e para os mercados americanos, de uma forma que permitirá os EUA serem dominantes.
Do ponto de vista da Creativante, o que consideramos mais marcante na DMT é seu poder preditivo. Em sua palestra de 2019, Brent afirmava que “o atual sistema monetário internacional vai chegar a um fim, e isso ocorrerá por conta da força do dólar, e não por sua fraqueza”. Em um de seus slides apresentados na ocasião, ele previa o fortalecimento do dólar (Figura 1 à frente), e demonstrava como se chegou a este estado de coisas, e como a arquitetura do sistema monetário internacional estava (e está) desenhada para fortalecer o dólar.
Como demonstrado por Brent na palestra de 2019, a partir de 2007/8 os EUA e as entidades não-bancárias fora dos EUA, tanto em economias avançadas quanto em economias emergentes, aumentaram enormemente suas dívidas denominadas em dólar. Como resultado, aumentou assustadoramente a demanda por dólares no mundo para honrar os serviços de tais dívidas. Os números dessas dívidas são astronômicos (algo perto de US$ 40 trilhões) (ver Figura 3).
Com a demanda por dólar aumentando no mundo, e por razões estruturais, a oferta não acompanhando tal demanda, o dólar se aprecia e se fortalece, tal como previsto pela DMT. Ocorre que, por razões históricas, os EUA criaram condições estruturais para que o dólar se tornasse a moeda de reserva global, tornando-se uma “dominant global funding currency” (moeda dominante para financiamento do comércio mundial). Sendo assim, sugando com um “canudo” o “milkshake da liquidez” global, o dólar continua, e continuará a deter essa hegemonia monetária até que essa “complexa arquitetura monetária” seja substituída por outra.
Neste sentido, pergunta-se: quais são as implicações desse complexo “mecanismo monetário global” para as criptomoedas? Este é o tema da próxima newsletter!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a “Dollar Milkshake Theory”, não hesite em nos contatar!