Nos últimos cinco anos temos mergulhado no mundo das Finanças para compreender melhor seus principais avanços nas últimas décadas, as teorias predominantes e os modelos de maior relevância prática, para podermos fazer previsões mais acuradas, pelo menos sobre o presente. Nesta jornada temos nos deparado com uma enorme variedade de trabalhos, mas alguns deles são mais distintivos do que outros, porque além de partirem de sólidos argumentos baseados nas lacunas dos modelos dominantes, eles se propõem a fazer sugestões de redirecionamento.
Um desses trabalhos é o livro “Making Money Work: How Rewrite the Rules of Our Financial System” (Fazendo o Dinheiro Trabalhar: Como Reescrever as Regras do Nosso Sistema Financeiro), publicado pelos economistas Matt Sekerke (Managing Director at SEDA Experts, Senior Macro Advisor at Hiddenite Capital Partners, and Fellow at the Johns Hopkins University Institute for Applied Economics - EUA) e Steve H. Hanke (Professor of Applied Economic at the Johns Hopkins University, and Co-Director of the Johns Hopkins University´s Institute for Applied Economics – conhecido por seu trabalho como reformista de moedas em países emergentes) em abril do corrente ano.
E por que este livro nos chamou a atenção? Em primeiro lugar, pelo prestígio dos seus autores, marcadamente pela trajetória profissional do Prof. Hanke. Em segundo lugar, pelo fato de os autores argumentarem explicitamente que criptomoedas e finanças descentralizadas “não são alternativas viáveis ao sistema da moeda fiat”. E, por último, porém não menos importante, pela combinação que os autores fazem entre a história e a teoria econômicas.
Sendo assim, logo na primeira parte (das três partes) do livro, e em seu primeiro capítulo (de um total de quatorze capítulos), intitulado “How Money Works: Institutions of the Monetary Economy” (Como o Dinheiro Trabalha: Instituições da Economia Monetária), os autores ousadamente argumentam que a moeda (dinheiro) desapareceu do pensamento econômico, absorvido em “Interest and Prices” (Juros e Preços). Neste momento os autores estão fazendo uma crítica ao livro intitulado “Interest and Prices: Foundations of a Theory of Monetary Policy” (Juros e Preços: Alicerces de uma Teoria da Política Monetária) do Prof. Michael Woodford, publicado em 2003.
Este livro do Prof. Woodford se tornou uma referência central na literatura de política monetária nos anos que se seguiram à sua publicação. Logo em seu primeiro capítulo (intitulado “The Return of Monetary Rules” – O Retorno das Regras Monetárias), o Prof. Woodford aponta que seu livro busca oferecer alicerces para um enfoque de política monetária baseado em regras. E não sem razão, como ele mesmo aponta. Segundo ele, na virada do século um novo consenso surgiu em favor de uma política monetária que fosse disciplinada por regras claras intencionadas em assegurar um padrão estável do valor, mais que um que fosse determinado numa base puramente discricionária para servir quaisquer fins. Um bom exemplo disso foi a adoção do regime de metas de inflação.
No entanto, esse “novo consenso” parece ter perdido força com a Grande Crise Financeira - GCF dos anos 2007/8. E aqui retornamos ao argumento dos economistas Sekerke e Hanke. Para estes economistas, o papel essencial da moeda na economia se tornou tão invisível para a teoria econômica (com o consenso acima citado) quanto a “água é para o peixe”. Isto não é somente um problema para a teoria. Quando um sistema quebra, é o trabalho dos economistas consertá-lo, e a teoria é a ferramenta mais certeira do economista.
Segundo Sekerke e Hanke os últimos grandes proponentes da visão de que a moeda importa para a economia – monetaristas como Milton Friedman, Karl Brunner, e Allan Meltzer – foram humilhados pelo fracasso do experimento monetarista de Paul Volker no Federal Reserve - FED de 1979 a 1982. Pelos próximos 40 (quarenta) anos a política monetária do FED guiou as taxas de juros para baixo até que elas não pudessem descer mais (Figura 1 à frente).
Agora, apontam os economistas, nós estamos cercados pelo legado dessa política: montanhas de dívidas, insanos preços do mercado imobiliário, valorações extremas de ações, e Gilded Age (era dourada do final do século 19 nos EUA) níveis de desigualdade. Talvez as patologias de uma era que ignorou a quantidade de moeda como um fator no crescimento econômico são uma boa razão para prestarmos atenção à quantidade de moeda uma vez mais (1). Porém, asseveram os economistas, “nossa meta não é reabilitar o velho monetarismo. Ao contrário, nós queremos reexaminar o papel da moeda na economia. ...Nós queremos construir uma economia monetária que seja coerente com o presente estado de nossa arquitetura financeira”.
Na próxima newsletter daremos continuidade aos argumentos dos economistas Sekerke e Hanke dando destaque às principais conclusões do livro aqui tratado, o qual nós da Creativante recomendamos fortemente.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre como fazer o dinheiro trabalhar para a economia, não hesite em nos contatar!
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Aqui nós fazemos uma menção a um recente artigo do Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que argumenta, de forma ousada, que o FED tem sido um “motor de desigualdade social, e que precisa mudar seu curso. Voltaremos a este artigo numa próxima oportunidade.
Figura 1 – 40 Anos de Taxas de Juros nos EUA

Fonte: https://www.visualcapitalist.com/sp/visualizing-40-years-of-u-s-interest-rates