Esta newsletter já tratou sobre Transformação Digital em duas oportunidades (em 08/10/2017 e em 15/10/2017). Em ambas ocasiões a Creativante assumiu o conceito de transformação digital como sendo “o aproveitamento das novas tecnologias digitais para transformar a experiência de uso dos usuários, seus processos operacionais, e seus modelos de negócios”. No entanto, nessa nova era de transformação digital existem os “catalisadores e os catalisados”.
No grupo dos catalisadores, é impossível deixar de citar a empresa norte-americana Apple Inc., criada por Steve Jobs na cidade de Cupertino, na Califórnia, EUA, em 1976. Mas o que pretendemos destacar aqui nesta newsletter não é o fascínio da inovação dos produtos da Apple, marcadamente o iPhone, como largamente explorado pela mídia e seus usuários (ou fãs), mas sim o caráter diferenciador da arquitetura dos negócios globais em que se baseia essa empresa.
São duas as principais características da arquitetura de negócios globais da Apple: a) um forte catalisador de novas cadeias de valor globais a partir de bens baseados em propriedade intelectual, b) e um engenhoso operador de arbitragens tributárias no cenário da competição internacional, fundamentalmente a partir de mecanismos de incentivo a P&D&I.
A primeira dessas características foi indiretamente identificada por Yuking Xing, Professor de Economia do National Graduate Institute for Policy Studies, em Tóquio, Japão. Desde 2010 o Prof. Xing vem pesquisando como a Apple (e mais particularmente o iPhone) vem contribuindo para aumentar o déficit na balança comercial dos EUA.
Segundo o Prof. Xing, as últimas poucas décadas têm assistido os EUA operarem déficits comerciais crescentes. O Prof. Xing tem usado o caso da Apple para demonstrar (ver aqui seu mais recente trabalho) que a falha das estatísticas do comércio internacional americano em capturar os fluxos de propriedade intelectual incorporados em exportações explica uma significativa proporção desses déficits. Logo, reformar as estatísticas do comércio internacional (ao incluir o valor adicionado pela propriedade intelectual incorporada nos produtos manufaturados fora dos EUA) é um passo essencial na direção de um melhor entendimento de como o comércio beneficia todos os países envolvidos, em particular os países que se especializam em exportar propriedade intelectual intangível.
A segunda das características acima citadas veio à baila a partir de uma multa cobrada à Apple de 14,5 bilhões de dólares pela Comissão Europeia. Esta Comissão acredita que a Apple, ao rotear lucros através da Irlanda, feriu a legislação tributária da União Europeia. A partir de uma investigação daquela Comissão, concluiu-se que a Irlanda concedeu benefícios fiscais ilegais à Apple, o que a capacitou a pagar substantivamente menos impostos do que outros negócios durante anos. De fato, um tratamento seletivo permitiu à Apple pagar um imposto de pessoa jurídica de 1 por cento sobre seus lucros europeus em 2003, caindo para 0,005 por cento em 2014. Acredita-se que uma boa parte destes lucros não taxados é usada para a Apple financiar seu P&D&I.
A Apple tem reiteradamente negado as acusações. A companhia tem uma considerável base de empregados na Irlanda há muito tempo (desde 1980). Na cidade de Cork ela emprega em torno de 6.000 pessoas, ou seja, cerca de 25% de seu staff na Europa, e de longe o maior empregador privado naquela cidade. A maioria desses trabalhadores lida com trabalho envolvendo a montagem de computadores e a provisão de suporte técnico.
É difícil concluir qual será o fim dessa disputa. Mas uma lição pode se extrair dessas duas caraterísticas associadas ao caso da Apple: ser uma empresa de tecnologias de informação e comunicação - TICs no mundo da transformação digital não é apenas um caso de excelência em tecnologia; é sinal de que é necessária uma boa arquitetura de negócios para atuar num mundo cada vez mais globalizado e complexo!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre arquiteturas de negócios globais, fique a vontade para nos contatar!