Nas últimas duas semanas iniciamos uma discussão sobre a Trumponomics, a economia do governo Trump. Apresentamos algumas das personalidades que estão “fazendo da cabeça” do Presidente Trump, e tratamos do essencial do documento intitulado “A User's Guide to Restructuring the Global Trading System” (Um Guia ao Usuário para Reestruturar o Sistema de Comércio Global), cujo autor é o economista Stephen Miran, atual Presidente do Council of Economic Advisers, documento este que tem sido considerado como a base teórica das políticas econômicas perseguidas pelo governo Trump

Mas como podemos analisar este documento? A melhor maneira é observar como os especialistas estão considerando o diagnóstico e as propostas para os problemas identificados no documento. Neste sentido, recorremos principalmente às contribuições do Professor Maurice Obstfeld, Professor de Economia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, EUA, que foi Chief Economist do Fundo Monetário Internacional, e é um Nonresident Senior Fellow do Peterson Institute for International Economics. É reconhecido por seus trabalhos em Economia Internacional, sendo autor (em parceria), dentre tantos outros, do livro International Economics: Theory and Policy, que já está na sua 12ª. Edição.

Em recente apresentação para uma Conferência do Brookings Institute, o Prof. Obstfeld apresentou o trabalho “The US Trade Deficit: Myths and Realities” (O Déficit Comercial dos EUA: Mitos e Realidades). De forma resumida os mitos e observações apresentados são três:

  1. Mito 1: Déficits Comerciais São Causados Primariamente por Políticas Públicas Ruins;

Muitos acreditam que os déficits comerciais dos EUA resultam de práticas comerciais estrangeiras injustas, ou de políticas comerciais domésticas frágeis. O Prof. Obstfeld argumenta que enquanto as políticas de comércio desempenham um papel, elas não são o guia primário. Ao invés, fatores econômicos – tais como taxas de poupanças, padrões de investimento, e fluxos financeiros globais – têm um impacto significativo maior nos balanços comerciais;

  1. Mito 2: Os EUA Devem Operar Déficits Devido ao Papel de Moeda de Reserva do Dólar;

Alguns sugerem que pelo fato de o dólar americano ser a moeda de reserva internacional, os EUA são forçados a operar déficits comerciais para proverem dólares suficientes para uso global. O Prof. Obstfeld refuta esta ideia, afirmando que enquanto o papel do dólar certamente influencia os fluxos financeiros globais, isto não necessita, ou implica, em um déficit comercial. Outros países com moedas de reserva, tais como Alemanha e Japão, têm superávits comerciais;

  1. Mito 3: O Acúmulo de Poupanças Globais É a Principal Causa dos Déficits Comerciais dos EUA;

Uma outra crença amplamente sustentada é a de que o excesso de poupança fora dos EUA – especialmente a partir de países como a China – causa déficits comerciais nos EUA ao inundar o sistema financeiro americano com investimento. O Prof. Obstfeld reconhece que padrões de poupança globais influenciam balanços comerciais, mas ele enfatiza que consumo doméstico, decisões de investimento, e políticas fiscais desempenham um papel mais crítico em conformar déficits.

Estes mitos são comumente usados para explicar déficits comerciais, mas o Prof. Obstfeld apresenta uma visão de nuances, evidenciando como tanto forças domésticas como internacionais conformam os desbalanços no comércio. Apesar do relato (dos mitos e realidades) feito pelo Prof. Obstfeld ter sido bem recebido na Conferência onde foi exposto, vários outros aspectos relacionados com a questão dos déficits comerciais ainda precisam ser esclarecidos, como identificaram os comentadores do trabalho.

Neste sentido, podemos concluir que, apesar de reconhecermos que o documento apresentado pelo economista Stephen Miran (discutido nesta série) constitui um dos fortes elementos que alicerçam a Trumponomics, e que ele incorpora os mitos aqui apresentados, ainda é cedo para afirmar se as políticas deles emanadas surtirão os efeitos desejados. Uma dessas políticas, e que muito nos interessa, é aquela que parte de uma convincente explicação para a desindustrialização estadunidense, e o que vem sendo ventilado para a reindustrialização do país.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a Trumponomics, não hesite em nos contatar!

(*) Esta newsletter contou, em parte, com a ajuda do Grok 3, assistente digital da rede social X.