Na semana que passou começamos a tratar do novo livro do indiano Sangeet Paul Choudary intitulado Reshuffle: Who Wins When AI Restacks the Knowledge Economy (Reorganização: Quem Vence Quando a IA Reestrutura a Economia do Conhecimento), lançado no mês de julho próximo passado pela FutureFirst Books.
A tese do novo livro do Choudary é a seguinte. O impacto da IA – Inteligência Artificial - é frequentemente encapsulado em termos estreitos – que trabalho ela (a tecnologia) substitui, que empregos ela ameaça, e como ela incrementa a produtividade. No entanto, o real impacto da IA vem não de como ela desempenha uma tarefa, mas sim como ela reestrutura o sistema inteiro no entorno daquela tarefa. Dito de forma mais direta, a história real não está na tecnologia, mas sim no sistema no qual a tecnologia é empregada.
Segundo o autor sem que entendamos as oportunidades e desafios criados pelo sistema que a IA transforma, nós arriscamos perder de vista os mais importantes efeitos da tecnologia em mudar estruturas organizacionais, redefinir modelos de negócios, e transformar a natureza da competição na indústria. Quando a IA entre em um sistema, ela altera a lógica econômica daquele sistema. Ela muda como o valor é criado e quem o captura.
Considere o exemplo da análise de pedidos de suporte ao consumidor, uma tarefa que os humanos levariam semanas escutando e anotando para extrair discernimentos chave. A IA pode rapidamente processar horas de áudio em minutos, identificar pontos comuns de dores dos consumidores, sumarizar discernimentos chave, e entregar achados claros para as equipes corretas. Ao invés de registros de áudio espalhados que são raramente acessados, cada um trabalha com os discernimentos corretos, ajudando-os a alinhar rapidamente em torno das necessidades dos consumidores.
Isto importa porque muito do conhecimento valioso de uma organização é tácito, enterrado em encontros, e-mails, conversas, inacessíveis e não compartilhados. A IA ajuda a converter tal conhecimento tácito em discernimentos explícitos e acionáveis que podem ser utilizados ao longo de uma organização. Conhecimento tácito tem sido historicamente difícil de escalar ou transferir, frequentemente permanecendo em silos entre indivíduos ou times/equipes. Ao tornar este conhecimento explícito, a IA não somente o preserva, mas também o torna amplamente acessível e acionável.
Desta forma, mudando nossa visão de pensar em termos de tarefas para pensar em termos de sistema, abre-se a porta para reimaginar como nós estruturamos o trabalho, fluxos de trabalho, e organizações, não em torno de substituição de humanos, mas em torno de novas capacidades, algumas vezes clericais (trabalho administrativo) como transcrição de áudio. Esta forma de pensar nos ajuda a focar em construção de sistemas que alavanquem as capacidades possibilitadas pela IA, mais do que ficarmos presos em detectar onde ela falha em replicar vantagens humanas.
Este livro focaliza nos sistemas nos quais a IA é introduzida – empregos, jornadas de consumidores, fluxos de trabalhos, organizações, e mesmo ecossistemas competitivos inteiros – e como eles devem evoluir para explorar completamente as capacidades da IA. Como argumenta o autor, central para este enfoque é o arcabouço de desagregação e reagregação: desmembrar os sistemas existentes em seus componentes e reagrupá-los em novas formas de criar valor.
Para explorar esta transformação, o livro está estruturado em três seções que seguem o arco do impacto da IA, de como nós pensamos sobre ela, para como ela muda como nós trabalhamos, para como ela reestrutura vantagem e poder competitivo.
Sendo assim, o livro começa ao reformatar os modelos mentais através dos quais entendemos a IA. Os capítulos da Seção 1 demonstram que a IA não é meramente uma ferramenta de automação ou substituição, mas sim uma força que transforma a lógica econômica de qualquer sistema ao mudar como o valor é criado e distribuído, e como estas mudanças realocam poder.
Na Seção 2, o autor nos possibilita fazer um zoom in no mundo do trabalho e das oportunidades e limitações introduzidas pela IA. Assim, ele nos permite olhar como a IA reestrutura organizações e os papeis e fluxos de trabalho no seu interior. Permite-nos também examinarmos s oportunidades que ela cria, não em termos de novos empregos, mas sim em termos de novo valor. Muitas tarefas que uma vez comandaram alto valor podem declinar em relevância., enquanto novos pontos de alavancagem emergem em outros lugares no sistema. Em um sistema que está constantemente em mudanças, é um erro ficar buscando pelo próximo título de emprego, uma vez que os mais velhos não mais se apliquem. A real oportunidade para trabalhadores está em rastrear onde o valor está apontando e posicioná-los em seu caminho.
Finalmente, o autor escala para o nível dos ecossistemas e economias. Nesta seção, o livro examina como a IA reestrutura a vantagem competitiva, como ela eleva novos vencedores e elimina os antigos, como ela muda parceiros do passado em competidores e torna amigos seus inimigos passados, e como ela muda a lógica de uma indústria.
Em resumo, este é um livro fascinante (que nós da Creativante recomendamos fortemente), escrito por um profissional de ampla experiência nesta nova economia do conhecimento. Um livro que examina como a tecnologia conforma os sistemas no nosso entorno e que muda quem vence e quem perde a cada momento em que uma mudança tecnológica significativa ocorre.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a reorganização da economia do conhecimento pela IA, não hesite em nos contatar!