Em uma série de newsletters recentes, intitulada A arquitetura relevante do sistema financeiro internacional (parte1parte 2 e parte final) estivemos tratando da atual arquitetura do sistema financeiro internacional, onde apontamos para dois arcabouços analíticos que contribuem para um maior entendimento da estrutura e da dinâmica daquela mais recente arquitetura.

Um destes arcabouços privilegia a área da Macro Finança como algo que vai além da mera interseção entre os domínios da Macroeconomia e das Finanças. O outro arcabouço focaliza o conceito da Liquidez Global. Olhando para este desenho de arquitetura, percebemos que ele estava carecendo de um arcabouço que evidenciasse melhor os seus fundamentos microeconômicos.

Apesar de termos indicado que nossa proposta de paradigma macroeconômico se manifesta pela introdução das Finanças Digitais no modelo da Figura 1 à frente, sentimos a necessidade de apontar como interpretamos nossa visão da Micro Finança neste desenho analítico. Para tanto, passamos a argumentar que a Micro Finança (ou Micro Finanças) é mais do que a interseção entre a área de Micro em Economia e a área de Finanças.

Neste sentido, revisamos nossa posição estabelecida nas duas newsletters intituladas Finanças Digitais: uma ponte entre a Micro Finança e a Macro Finança (parte 1final), publicadas respectivamente em 12/06/2023 e 18/06/2023. Nestas duas newsletters assumimos que ao longo das últimas três décadas tem havido um amplo reconhecimento das instituições de microfinanças (Microfinance Institutions – MFIs) e uma crescente provisão de serviços de microcrédito em países em desenvolvimento em todos os setores. Ou seja, assumimos que este seria o contexto da Micro Finança.

No entanto, a newsletter publicada em 20/11/2023 intitulada Market Microstructure (Microestrutura de Mercado), identificamos a área de Market Microstructure (Microestrutura de Mercado) como sendo o estudo dos mercados financeiros e como eles operam. A pesquisa nesta área foca primariamente na estrutura dos lugares de trocas e negociações (displayed/exibidas ou dark/na escuridão), no price discovery process (processo de descoberta de preço), nos determinantes dos spreads e cotas, no intraday trading behavior (comportamento da negociação intra diária), e nos custos de transação.

Como manifestamos naquela oportunidade, esta área (da Micro Finança) continua a ser um dos campos que crescem mais rápido na pesquisa financeira devido ao rápido desenvolvimento das negociações algorítmicas e eletrônicas. Como um resultado da alta velocidade de evolução dos mercados financeiros nas duas últimas décadas, o número de lugares de negociações e de trocas tem crescido em forma de cogumelo, com muito mais no horizonte, e os processos de negociações têm evoluído exponencialmente em complexidade e sofisticação.

Adicionalmente, apontamos que esta área já vinha sendo “contaminada” pelo que nós estamos denominando por Finanças Digitais. Funções tradicionais de negociação e participantes têm sido superados por computadores e agentes de negociação eletrônicos. A intervenção humana no processo de negociação tem expandido do matching (pareamento) tradicional e do roteamento das ordens para um requerendo análises complexas e tomada de decisão em tempo real. O analista de microestrutura de mercado é agora encarregado com a tarefa de entender todas as questões circundando marketplaces em constantes mudanças.

Mas o que nos restava (como investigação) era desvendar qual seria o elo analítico entre os arcabouços da Macro Finanças e da Liquidez Global acima descritos. E foi assim que chegamos ao livro intitulado “Market Liquidity: Theory, Evidence, and Policy” (Liquidez de Mercado: Teoria, Evidência e Políticas), publicado em 2023 (segunda edição) pelos economistas Thierry Foucault, Marco Pagano e Ailsa Roell.

O tópico principal deste livro é a liquidez de mercados de securities (stocks, bonds and derivatives – títulos financeiros): sua mensuração, seus determinantes e seus efeitos. O livro está dividido em três partes: a Parte 1 provê o leitor com ferramentas de modelagem e de econometria necessárias a entender a microestrutura de mercados, a área da Economia Financeira que foca na liquidez de security markets.

A Parte 2 do livro investiga como características chave do desenho de mercado afetam o nível de liquidez, a velocidade da price discovery (descoberta de preço), e ganhos e perdas dos participantes do mercado. A Parte 3 é devotada às interações entre microestrutura de mercados, precificação de ativos e finanças corporativas.

Sendo assim, é possível agora caracterizar o nosso arcabouço analítico principal como sendo uma composição do arcabouço da Macro Finança com o da Micro Finança, sendo este representado pela Figura 2 à frente, que tem como modelo referencial o arcabouço da Macro Finança, já apontado na Figura 1. Logo, a inserção das Finanças Digitais neste arcabouço é apresentada na Figura 3 à frente.

Em resumo, temos agora a possibilidade de tratar os atuais complexos ecossistemas financeiros baseados em plataformas digitais – CeFi, DeFi e PlatFi (Figura 4 à frente) a partir de um arcabouço analítico geral que observa suas estruturas e dinâmicas a partir tanto da dimensão da Macro Finança quanto a partir dos fundamentos da Micro Finança, conjugando aos dois o arcabouço da Liquidez Global.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o arcabouço da Micro Finança como complemento da Macro Finança, não hesite em nos contatar!

Figura 1 – MacroFinance and Digital Finance

Fonte: Brunnermeier (2024) elaborado => https://creativante.com.br/newsletter/2025/a-arquitetura-relevante-do-sistema-financeiro-internacional-parte-final

Figura 2 – Microfinança: mais do que a interseção entre Micro & Finanças

Ilustração mostrando a interseção da macroeconomia com finanças e finanças digitais

Fonte: Autor (2025)

Figura 3 – MicroFinance and Digital Finance

Ilustração mostrando a interseção da macroeconomia com finanças e finanças digitais

Fonte: Autor (2025)

Figura 4 – Digital Finance Ecosystems

Intercessão do ecossistema de finanças digitais

Fonte: Grupo de Finanças Digitais da UFPE (2023)